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A análise é um lugar onde a infelicidade e o sofrimento podem aparecer e ser elaborados, é onde se pode criar e construir a própria maneira de ser feliz, ou, pelo menos, de tentar sê-lo.



“O que revela a própria conduta dos homens acerca da finalidade e intenção de sua vida, o que pedem eles da vida e desejam nela alcançar? É difícil não acertar a resposta: eles buscam a felicidade, querem se tornar e permanecer felizes.” Freud, S.


Não é de hoje que a felicidade, ou melhor, a busca por ela, ocupa lugar de destaque na vida dos homens. Contudo, atualmente, a felicidade ganhou ainda mais notoriedade e adquiriu o caráter obrigatório de algo a ser buscado e mantido.


O verbo “ser” tomou o lugar do “estar”. Não bastam mais momentos esporádicos de felicidade, esta tem de estar presente de uma forma contínua na vida do sujeito. A regra é ser feliz em tudo: no trabalho, no estudo, na vida familiar, nas amizades etc.


A felicidade tornou-se uma obsessão moderna, uma ideia fixa, uma utopia fetichizada, uma mercadoria a ser comprada. Não faltam livros de autoajuda, produtos milagrosos, técnicas terapêuticas, palestras motivacionais e cursos on-line que vendem a fórmula mágica da felicidade.


Mas onde fica o espaço e o tempo para o sofrimento e as dores, para as frustrações e decepções, para se sentir triste, para baixo, insatisfeito?


Tudo isso traz algumas reflexões à tona: seria possível ser feliz de forma contínua e prolongada, ou a felicidade se resume apenas ao instante de alguns raros momentos? A “receita” de felicidade do outro é aplicável a mim e vice-versa? É realizável viver sem sofrimento, em uma paz plena? Em suma, o que é a felicidade e como ser feliz?


Segundo Freud, “não há [...] um conselho válido para todos; cada um tem que descobrir a sua maneira particular de ser feliz."

Retirando de nosso sofrimento psíquico a consciência potencial da violência social.



Recortes do artigo: "O sujeito e a ordem do mercado: gênese teórica do neoliberalismo", do livro Neoliberalismo como Gestão do Sofrimento Psíquico.


O neoliberalismo nos levou a sofrer de outra forma, procurando retirar de nosso sofrimento psíquico a consciência potencial da violência social.


Na lógica neoliberal cada sujeito é convertido em “capital”, os sujeitos passam a se compreender como empresas submetidas à insegurança típica da dinâmica dos mercados.


Especialista dele mesmo, empregado dele mesmo, inventor dele mesmo, empresário dele mesmo: a racionalidade neoliberal pressiona o eu a agir sobre ele mesmo no sentido de seu próprio reforço para seguir na competição.


Quando o indivíduo é colocado como centro da dinâmica, na verdade pesa sobre ele com máximo vigor uma lei externa, a lei da valorização do capital.


Ao internalizá-la, é o próprio indivíduo que passa a exigir de si mesmo ser um empreendedor bem-sucedido, buscando otimizar o potencial de todos os seus atributos capazes de ser “valorizado”.


Essa subjetividade ilusoriamente inflada provoca inevitavelmente, no momento de seu absoluto esvaziamento, frustração, angústia associada ao fracasso e autoculpabilização; a patologia típica nesse contexto é a depressão.


É necessário ao ouvir sobre o sofrimento psíquico, compreender que o sujeito está inserido em contexto social, político e cultural. Ouvir, para além daquilo que se queixa, qual a dinâmica que é imposta, compreendendo que o sujeito é efeito de um discurso, e o discurso é o efeito da lógica dominante. Que o sujeito precisa se haver com suas próprias escolhas, é fato, mas não podemos ignorar, ao ouvir e tratar, o efeito do meio no qual ele está inserido.





Para a psicanálise, o conceito de normalidade é muito relativo. Cada época, cada sociedade, cada cultura tem seus padrões do que é aceitável e, consequentemente, recusável como normal.


Sendo uma prática que valoriza, sobretudo, a emergência da singularidade do sujeito, arranjos genéricos que buscam catalogar e classificar pessoas não encontram espaço na prática clínica psicanalítica.


Com os contornos do que é normal sendo relativizados, perde-se a rigidez também acerca do que é anormal ou patológico.


Pode-se dizer que o normal, para a psicanálise, é ser diferente!

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